terça-feira, 14 de junho de 2011

Podia ter sido uma quinta-feira normal


Podia ter sido uma quinta feira normal depois da faculdade. Eu entraria no ônibus, entregaria os 6 reais (sim, 6 reais) ao motorista e iria para o meu lugar habitual, geralmente à umas 3 fileiras do fundo, o assento da janela esquerda, onde não bate sol, e iria pra casa tranquilo. Ficaria dizendo pra mim mesmo: "acho que vou dar uma adiantada no texto da aula de amanhã.", mas no final das contas dormiria até o Vaqueire. Acontece que nesse dia o meu professor do último tempo liberou a turma mais cedo, de modo que eu teria que esperar 40 minutos pelo ônibus. Resolvi então andar até o CT, esperar por ele lá e voltar pra casa com meu amigo Aloizio.
                Uns 30 minutos depois, este chega no ponto acompanhado da Daphne, que não costuma voltar com a gente, o que me deixou surpreso. Depois de cumprimentá-los eu sou quase imediatamente contemplado pelo futuro engenheiro com a seguinte indagação "Que definição você daria pra verdade?". Exatamente assim, sem um jantarzinho, sem um agrado, nada. Diante de tal situação tive que me abster de ler a recém-comprada revista do X-Men e pôr-me a pensar. Não que tenhamos chegado a uma conceituação exata e absoluta para verdade, mas, já no ônibus, concluímos com certa facilidade que "verdadeiro não é necessariamente tudo aquilo que não é falso" e que "falso não é necessariamente tudo aquilo que não é verdadeiro".
Ora, mediante tal conclusão achei que finalmente dormiria tranquilo, mas eis que surge novo questionamento, ainda mais cabeludo que o anterior, "o que é existência?". É...... a soneca não ia rolar. Comecei a matutar aos trancos e barrancos (não me recordo, porém, se estes eram do ônibus ou da minha mente). Eu ouvi bastante os dois falando, e quando digo bastante eu quero dizer PRA CARALHO, mas então num golpe de raciocínio (ou epifania, quem sabe?) cheguei a uma ideia que me deixou muito sastifeito (como já diria Alberto Rumples-sei-lá-o-quê Guerra). A ideia foi a seguinte: "Alguma coisa existe quando ela é capaz de afetar, de alguma maneira, outra coisa".
                Na verdade, minha definição me agradou tanto que eu  me achei digno de um salva de palmas e de receber prêmio qualquer de um desses eventos culturais underground que acontecem por aí, mas depois de certa empolgação inicial, meus amigos acharam mais interessante discutir as divergências de suas próprias definições. Ela dizia que "se algo existe, esse algo é passível de definição" e ele dizia que "se algo é passível de definição, esse algo existe". Pode parecer que não, mas são duas afirmações totalmente diferentes (pelo menos, foi o que me disseram). Baseados nisso podemos deduzir o quão interessante foi essa discussão (~ Trollface ~).
Agora, com um pouco mais de embasamento, vou tentar dar suporte à minha teoria. A nossa palavra "existir" vem do verbo latino EXISTERE, que é traduzido como "aparecer, emergir, fazer ir à frente". Esse verbo é formado a partir de EX-, que significa "de onde (no sentido de lugar de origem)" e um outro verbo SISTERE que corresponde a “fazer ficar de pé”. Então podemos dizer que alguma coisa existe quando ela é capaz de ficar de pé em relação às outras. Quando ela se destaca em relação à mediocridade das coisas que a cercam. Quando ela te empurra pra frente (note que não necessariamente isto tem um sentido de progresso ou melhoria), em suma quando ela é capaz de te afetarDesse modo, é fácil de ver, por exemplo, que as matérias que ignoramos na escola não existem. Que os traficantes e usuários de drogas não existem. Que chacinas e holocaustos nunca existiram e que todos esse bilhões de pessoas que habitam o mundo, a não ser que sejam capazes de afetar a nossa vida, nossa consciência, mesmo que da maneira mais ínfima possível, não existem.
E antes que haja uma revolta, devido ao estilo pedante do “escritor”, à sua prolixidade, e à conclusão esdrúxula a qual chegou, permitam-me uma asserção final (sim amigo leitor, estou finalmente acabando). Fundamentado nessa mesma teoria eu afirmo que nós somos incapazes de existirmos por nós mesmos, sozinhos. Pense bem, seríamos capazes de modificar nossa própria existência, de afetá-la, totalmente desprovidos da influência de nossos amigos, familiares, namorados ou namoradas, e do ambiente que nos cerca? A resposta é desnecessária. Tudo e todos dependemos de algo mais além de nós mesmos para existirmos, essa é a graça do ser humano, ou melhor, essa é a graça de ser humano.