quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Quasissoneto


O triste de um soneto é saber estar sozinho
Que a culpa é minha e meu é o fardo
De não ter vivido nem mais um pouquinho
Desde meu último amor neste formato.

E já não bastasse reviver tais pesadelos
De minhas rimas precárias e métrica vagabunda
Nasce sempre um soneto deformado, meio corcunda
Por isso, também, parei de escrevê-los.

Mas como a ideia do Quasissoneto inda sobrevive
De que devo parar, ignoro os indícios
De quebra copio o amigo Vinícius
Com “Que eu possa me dizer do amor (que tive)”

Quando um dia o tiver
Quando em todos te ver.

terça-feira, 5 de julho de 2011

On the author

Eu sabia. Esse era o meu maior motivo de relutância quando cogitava criar ou não esse blog no qual escrevo agora. Eu não sei mais o que escrever, e no entanto, existe aquela pressão social para que eu escreva algo tão bom quanto ou melhor que o último texto.
Pressentindo que os textos que virão são mais.... "densos", por assim dizer, carregados de reflexões mais profundas e referências etimológicas (que cansarão o leitor mais "apressado"), resolvi fazer um texto mais leve pra preencher o tempo vazio entre o texto 1 e 2, que na verdade será o 3.
Mas o que eu poderia ter de interessante e "leve" pra compartilhar? 
Eu sou feio. Gordo. Socialmente inerte. Irmão mais velho de três irmãos, mas hierarquicamente estou abaixo dos filhotinhos recém-nascidos da minha poodle. Eu toco baixo elétrico. Só tive uma namorada. E minha vida sexual é tão agitada quanto uma reunião de falantes de Esperanto (eu sei, isso é meio redundante já que eu disse que tocava baixo). Sou filho de militar. Já me mudei muitas vezes por causa disso. Deixei amigos. Fiz novos. Tenho poucos, mas os poucos que tenho são foda(digdin digdin?) Eu toco baixo. Sou filho da mãe. Mãe assistente social e capitalista. Sou pseudo-socialista. Também já fui filho do Pai, do Filho e do Espírito Santo, hoje, sou filho da puta. Eu já acreditei no amor. Eu toco baixo. Eu já deixei de acreditar no amor. Eu voltei a acreditar no amor, não naquele amor platônico e suicida, e sim num amor construído, baseado na dedicação mútua, pois agora percebo que o amor foi feito pra ser motivo de alegria e não um fardo. Eu curso letras na faculdade e.... ah! Eu toco baixo. Eu gosto de ler, mas não leio tanto quanto gostaria. Eu quero ser professor, ajudar a formar pessoas melhores, mas secretamente tenho medo de não conseguir. Eu sou chamado de "inteligente" pelos que me rodeiam, mal sabem eles o quão insignificante Eu sou. Eu tento parecer seguro e "forte", mas por dentro eu sou tão estável quanto um barco em alto mar numa noite de tempestade. Eu sou homem. Eu sou menino. Eu escuto Fresno. Eu tenho uma banda e Eu toco baixo. Eu tenho medo de virar um velho ranzinza aos 20 anos de idade. Também tenho medo de ficar pensando nas consequências e não tomar nenhuma atitude, medo de ser inativo. Eu tenho medo de não saber quem sou nem o que tenho que fazer. Eu tenho medo de não pensar. Por isso eu fiz esse blog, pra ver se ele me ajuda a exercitar minha mente um mínimo que seja, e organizar mais certas ideias.
Em suma, eu sou uma pessoa confusa, mas ainda assim uma pessoa. Uma pessoa que pede desculpas pelo que devia ter sido um texto alegre e descontraído e acabou se transformando num frankenstein cyber literário. Uma pessoa que toca baixo =D




terça-feira, 14 de junho de 2011

Podia ter sido uma quinta-feira normal


Podia ter sido uma quinta feira normal depois da faculdade. Eu entraria no ônibus, entregaria os 6 reais (sim, 6 reais) ao motorista e iria para o meu lugar habitual, geralmente à umas 3 fileiras do fundo, o assento da janela esquerda, onde não bate sol, e iria pra casa tranquilo. Ficaria dizendo pra mim mesmo: "acho que vou dar uma adiantada no texto da aula de amanhã.", mas no final das contas dormiria até o Vaqueire. Acontece que nesse dia o meu professor do último tempo liberou a turma mais cedo, de modo que eu teria que esperar 40 minutos pelo ônibus. Resolvi então andar até o CT, esperar por ele lá e voltar pra casa com meu amigo Aloizio.
                Uns 30 minutos depois, este chega no ponto acompanhado da Daphne, que não costuma voltar com a gente, o que me deixou surpreso. Depois de cumprimentá-los eu sou quase imediatamente contemplado pelo futuro engenheiro com a seguinte indagação "Que definição você daria pra verdade?". Exatamente assim, sem um jantarzinho, sem um agrado, nada. Diante de tal situação tive que me abster de ler a recém-comprada revista do X-Men e pôr-me a pensar. Não que tenhamos chegado a uma conceituação exata e absoluta para verdade, mas, já no ônibus, concluímos com certa facilidade que "verdadeiro não é necessariamente tudo aquilo que não é falso" e que "falso não é necessariamente tudo aquilo que não é verdadeiro".
Ora, mediante tal conclusão achei que finalmente dormiria tranquilo, mas eis que surge novo questionamento, ainda mais cabeludo que o anterior, "o que é existência?". É...... a soneca não ia rolar. Comecei a matutar aos trancos e barrancos (não me recordo, porém, se estes eram do ônibus ou da minha mente). Eu ouvi bastante os dois falando, e quando digo bastante eu quero dizer PRA CARALHO, mas então num golpe de raciocínio (ou epifania, quem sabe?) cheguei a uma ideia que me deixou muito sastifeito (como já diria Alberto Rumples-sei-lá-o-quê Guerra). A ideia foi a seguinte: "Alguma coisa existe quando ela é capaz de afetar, de alguma maneira, outra coisa".
                Na verdade, minha definição me agradou tanto que eu  me achei digno de um salva de palmas e de receber prêmio qualquer de um desses eventos culturais underground que acontecem por aí, mas depois de certa empolgação inicial, meus amigos acharam mais interessante discutir as divergências de suas próprias definições. Ela dizia que "se algo existe, esse algo é passível de definição" e ele dizia que "se algo é passível de definição, esse algo existe". Pode parecer que não, mas são duas afirmações totalmente diferentes (pelo menos, foi o que me disseram). Baseados nisso podemos deduzir o quão interessante foi essa discussão (~ Trollface ~).
Agora, com um pouco mais de embasamento, vou tentar dar suporte à minha teoria. A nossa palavra "existir" vem do verbo latino EXISTERE, que é traduzido como "aparecer, emergir, fazer ir à frente". Esse verbo é formado a partir de EX-, que significa "de onde (no sentido de lugar de origem)" e um outro verbo SISTERE que corresponde a “fazer ficar de pé”. Então podemos dizer que alguma coisa existe quando ela é capaz de ficar de pé em relação às outras. Quando ela se destaca em relação à mediocridade das coisas que a cercam. Quando ela te empurra pra frente (note que não necessariamente isto tem um sentido de progresso ou melhoria), em suma quando ela é capaz de te afetarDesse modo, é fácil de ver, por exemplo, que as matérias que ignoramos na escola não existem. Que os traficantes e usuários de drogas não existem. Que chacinas e holocaustos nunca existiram e que todos esse bilhões de pessoas que habitam o mundo, a não ser que sejam capazes de afetar a nossa vida, nossa consciência, mesmo que da maneira mais ínfima possível, não existem.
E antes que haja uma revolta, devido ao estilo pedante do “escritor”, à sua prolixidade, e à conclusão esdrúxula a qual chegou, permitam-me uma asserção final (sim amigo leitor, estou finalmente acabando). Fundamentado nessa mesma teoria eu afirmo que nós somos incapazes de existirmos por nós mesmos, sozinhos. Pense bem, seríamos capazes de modificar nossa própria existência, de afetá-la, totalmente desprovidos da influência de nossos amigos, familiares, namorados ou namoradas, e do ambiente que nos cerca? A resposta é desnecessária. Tudo e todos dependemos de algo mais além de nós mesmos para existirmos, essa é a graça do ser humano, ou melhor, essa é a graça de ser humano.